Personagem de setembro: Bruno Carneiro

Neste espaço, o Racemotor vai trazer, a cada mês, um personagem do automobilismo ou do motociclismo para falar de sua carreira, desafios e dividir histórias interessantes das pistas e de fora delas. Pilotos, donos de equipe, personalidades, mecânicos, entusiastas; do Brasil e do exterior; campeões ou iniciantes, nomes que fizeram história ou ainda vão escrever seus principais capítulos; o espaço é para todos.

E o primeiro a ser retratado, o personagem de setembro, é um ótimo exemplo de garra e insistência dentro e fora das pistas em nome do sonho. Mais um caso de quem se recusa a acreditar que o esporte motor é inacessível, coisa para privilegiados. E que, por isso, chegou longe: mais precisamente ao Japão. Mas continua lutando contra as limitações no orçamento para disputar temporadas completas e aproveitar as oportunidades.

Você já deve ter ouvido falar na história de quem precisa “vender o almoço para comprar a janta”. No caso de Bruno Carneiro, a história merece uma adaptação. Afinal, para esse paulista de nascimento que se mudou com a família para Utah com 10 meses de idade (há 19 anos), o principal incentivo para conseguir as quantias necessárias a levá-lo adiante da ótima carreira no kart veio do desafio de vender vouchers para a Rodizio Grill, uma churrascaria ao estilo brasileiro hoje presente em 20 endereços nos Estados Unidos (inclusive no Utah Motorsports Campus, o autódromo de Toole).

Uma experiência iniciada com apenas nove anos de idade – antes o proprietário da rede, Ivan Utrera, já havia garantido o patrocínio para as disputas no kart  –  que se tornou não só a principal fonte de financiamento para correr, como ainda se tornou exemplo, contado em palestras para empresas e organizações. Hoje ele é o “menino dos cupons”.

Depois de se tornar campeão do Nasa Utah Pro Formula (certame disputado com os antigos carros da F-Mazda) em 2015, veio a chance de disputar, no ano seguinte, a segunda temporada da F-4 Chinesa. Fruto de um acaso que se mostrou perfeito, como o próprio Bruno conta. “Eu encontrei os novos proprietários da pista de Utah, um grupo chinês, eles me disseram que tinham uma equipe lá e me convidaram para correr. Eu ri, achei que era brincadeira, mas era sério. Fiz uma primeira prova em 2015, fiquei em terceiro e, no ano seguinte, me chamaram de novo para brigar pelo título”, explica, num português que, em alguns momentos, já traz um leve sotaque “yankee”.

Mesmo encarando circuitos completamente desconhecidos como Chendgu, Zhuhai e Shanghai, venceu oito corridas e conseguiu oito poles para conquistar o título com ampla folga – com direito a presença na festa de gala da FIA, ao lado de Lewis Hamilton e Nico Rosberg. E se não bastasse, ainda garantiu a taça da Formula Pro Challenge, nos EUA, com um F-Mazda de 270 cavalos.

O feito na Ásia abriu portas e, depois de contatos durante o GP de Macau, que acompanhou fora da pista, veio a chance de disputar o Japonês de F-3 com um Dallara-Mercedes da equipe estreante Albirex RT. Desta vez, além das pistas, carro e país eram totalmente novos e, apesar das dificuldades de adaptação, o ano terminou com o 11º lugar final (e um ponto somado).

A atual temporada começou com a chance de integrar o esquadrão B-Max, com um Dallara-Volkswagen. E já na primeira etapa, em Suzuka, dois sextos lugares mostraram todo o potencial de piloto e equipe. Mas, nem mesmo a venda dos cupons foi suficiente para garantir a continuidade da parceria. Com as portas abertas na categoria do Sol Nascente, ele voltou para casa e novamente arregaçou as mangas em busca de um retorno, que pode acontecer ainda esse ano ou, mais provavelmente, em 2019. Enquanto isso, voltou a dar aulas de pilotagem com os quatro karts que ele próprio comprou para ajudar na formação de jovens talentos e integrou o time Makes & Models, vencedor das 6h de Utah, a bordo de uma Lamborghini Huracán Supertrofeo.

“Qualquer coisa que eu possa fazer para voltar ao carro vou fazer, isso é a única coisa que importa para mim, estar pilotando. Voltar à Fórmula 3 japonesa é minha meta. Se não esse ano, no ano que vem, mas não vou desistir. Tenho muita fé em Deus e em mim”. Vendo até onde a insistência o levou, é difícil duvidar do “menino dos cupons”. Como não há dúvida de que merece todo o apoio para chegar bem mais longe.

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