Dia triste para o automobilismo brasileiro, com o adeus a Gil de Ferran

A última sexta-feira de 2023 trouxe para os fãs da velocidade pelo mundo uma notícia bastante triste. Morreu aos 56 anos, nos Estados Unidos, Gil de Ferran. Segundo os primeiros relatos, ele pilotava ao lado do filho no circuito Concours Club, na Flórida, quando sofreu um ataque cardíaco e não resistiu.

Filho do francês Luc de Ferran, que se destacou na engenharia da filial brasileira da Ford, o paulista nascido em Paris começou no kart nos anos 1980 e saltou para a Fórmula Ford em 1985. Dois anos depois, conquistou o título e partiu em busca da carreira internacional na Inglaterra. Foi terceiro nos três campeonatos da F-Ford 1600 britânica disputados em 1989. No ano seguinte, iniciou uma parceria com a Paul Stewart Racing (do filho de Jackie Stewart) que valeu o terceiro lugar na F-Vauxhall Lotus e em sua equivalente europeia.

Em 1992, Gil conquistou o título da então prestigiada F-3 inglesa. Nos dois anos seguintes, na F-3000, terminou em quarto e terceiro. Embora tenha testado com a Footwork na F-1, a falta de orçamento e a recomendação de Adrian Reynard o levaram à Fórmula Indy, pelo time de Jim Hall, com um Reynard Mercedes que trazia as lendárias cores da Pennzoil.

A primeira vitória veio já em 1995 (Laguna Seca). Dois anos depois, se transferiu para o time de Derrick Walker, agora com o patrocínio da Valvoline e, mesmo sem vitórias, só foi superado na classificação por Alessandro Zanardi. Voltou a vencer em 1999 e, em 2000, passou a pilotar para Roger Penske.

Uma dobradinha que valeu os títulos de 2000 e 2001. Com a divisão no automobilismo norte-americano, seguiu para a IRL em 2002. Em 2003, conquistou as 500 Milhas de Indianápolis em um domingo especial para o Brasil, com o companheiro de equipe Hélio Castroneves em segundo e Tony Kanaan em terceiro.

IMSA

Sempre com um lado analítico e empreendedor, Gil decidiu montar sua própria equipe (De Ferran Motorsports) na principal categoria da IMSA. Foi vice da LMP1 em 2009 com o Acura ARX-02 oficial, em dupla com Simon Pagenaud.

A ligação com a Honda o levou a integrar a direção esportivas de sua equipe na F-1 e, mais tarde, da McLaren, na segunda passagem da fabricante japonesa pelo time de Woking. Empregou toda a sua experiência para ajudar Fernando Alonso em sua estreia nas 500 Milhas (2017) e passou a trabalhar com a Arrow McLaren SP na Indy. Além disso, foi um dos fundadores da Extreme E, ao lado de Alejandro Agag. Também foi sócio de Jay Penske em 2010 na Indy, com Rafa Matos como piloto da Luczo Dragon De Ferran.

A revista britânica Autosport, quando de seus 50 anos, listou Gil de Ferran como um dos maiores pilotos a não ter competido na F-1. Algo que certamente faltou em seu currículo, mas não o incomodava. Ficam as lembranças do estilo de pilotagem limpo, analítico e eficiente que também o transformou em um dos grandes nomes nos ovais. Em Fontana, no ano 2000, conquistou a pole com a mais alta velocidade média já registrada em um circuito: 388,45 km/h.

O Racemotor se solidariza com a esposa, a britânica Angela, e os filhos Anna e Luke.


Direto da memória:

O ano era 1998, no saudoso Autódromo de Jacarepaguá, que recebia a terceira edição da Fórmula Indy (Rio Indy 400), no ‘oval’ construído especialmente para receber a categoria norte-americana. Com a chuva ao longo de toda a sexta-feira, os carros permaneceram nos boxes. No da equipe Walker estava o Reynard Honda #5, com a bela combinação em azul, vermelho e branco da patrocinadora Valvoline. E junto a ele o piloto, sem ter o que fazer.

Mais do que uma entrevista, virou conversa. Sobre o tempo; o circuito carioca, as expectativas para o restante da temporada. De repente, Gil de Ferran pergunta: aceita um café? Diante da resposta positiva, ele mesmo se encarrega de trazer o seu e o do jornalista. E se senta em um dos pneus dianteiros para prosseguir o papo. Sim, o ambiente da Indy naquele tempo tornava essa cena comum, mas Gil era assim mesmo. Nenhum estrelismo, muito talento e a visão das corridas que ía muito além da pilotagem. Um grande. (Rodrigo Gini)

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