‘Artimanha’ da Mercedes é primeiro ponto polêmico nos testes da F1 em Barcelona

Não demorou um dia e já surgiu o primeiro motivo de polêmica envolvendo os novos carros para o Mundial de F1 2020. E justamente com os atuais hexacampeões mundiais. Um dispositivo teoricamente ingênuo mas capaz de trazer grande vantagem em vários aspectos foi flagrado nas imagens da câmera onboard da Mercedes W11 de Lewis Hamilton. E já levanta dúvidas sobre sua legalidade.

Vale lembrar que, num F1, os pneus dianteiros não são exatamente paralelos ao restante do conjunto. Há a cambagem, que é a inclinação em relação ao eixo vertical e a convergência (‘toe’) – a inclinação em relação ao eixo horizontal. No primeiro caso, a parte superior do pneu é mais próxima do bico que a inferior (cambagem negativa). Uma forma de garantir a aderência ideal nas curvas diante das forças que agem sobre o conjunto.

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Já no segundo caso, a parte da frente dos pneus está mais próxima do bico que a de trás. Uma forma de neutralizar a tendência de saída de traseira provocada pela própria configuração dos carros (motor e tração traseiros). O que, no entanto, reduz a área de contato dos pneus com o solo nas retas e tira velocidade, além de aumentar o desgaste e a temperatura da borracha.

Os vídeos mostram claramente como Hamilton, antes da entrada da reta dos boxes, puxa o volante quando, no display, aparece a palavra Marker. Da mesma forma, na freada para a primeira sequência de curvas, empurra o volante quando a palavra reaparece.

Um sistema desenvolvido pela Mercedes faz com que, no retão, as rodas fiquem paralelas ao eixo horizontal e, com isso, garantam maior contato e menor desgaste dos pneus. Permitindo maior eficiência aerodinâmica e velocidade.

Legal ou ilegal?

Como na pré-temporada os carros podem andar fora do regulamento (abaixo do peso, por exemplo, mesmo que seja para simular seu comportamento e as mudanças com o lastro), o experimento da Mercedes-AMG F1 não é sinônimo de emprego nas corridas.

No altamente competitivo mundo da F1, é possível checar junto à FIA a legalidade de determinadas soluções. O próprio time interessado tem a possibilidade de pedir a análise e, em caso positivo, mantém-se o sigilo industrial.

Por outro lado, o próprio departamento técnico da entidade pode, caso tenha indícios e provas claras, convocar a escuderia a prestar explicações. Em caso de dispositivo irregular, o funcionamento do mesmo se torna público, para deixar transparente o que não é permitido sobre o tema. Foi assim, por exemplo, com o FRIC – dispositivo hidráulico que fazia as suspensões dianteira e traseira funcionarem de forma coordenada.

Há ainda um terceiro caminho, normalmente usado pelos adversários para questionar a legalidade de um rival. A escuderia pode encaminhar demanda à FIA na linha do “suponhamos que eu queira criar um sistema na direção para anular a convergência das rodas nas retas”. Uma resposta negativa leva o ‘dedo duro’ a recorrer de quem possa usar a artimanha.

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