Análise: A F-1 e a pré-temporada de silêncio ensurdecedor

Há uma semana a Liberty Media divulgou informações sobre a audiência dos GPs da Fórmula 1 na TV e nas plataformas digitais e comemorou os números em alta (+10% em termos de espectadores únicos), com direito ao Brasil puxando a fila, mesmo sem representante no grid. Dados que se somam ao aumento do público nos autódromos (média de 8%) e mostram que o esforço para manter o prestígio da categoria está funcionando.

Só que existe um aspecto em que é necessário avançar muito, e não se trata da questão das disputas na pista ou do equilíbrio entre os times. Por mais de dois meses, desde o fim dos testes coletivos em Abu Dhabi até o início da temporada em Barcelona, o circo se esconde apesar de todas as possibilidades oferecidas pelas redes sociais.

Até mesmo as publicações especializadas começam a reclamar da falta de novidades. Foto de Daniel Ricciardo com as cores da Renault? Não temos. Detalhes sobre a parceria da Williams com a Orlen, gigante do petróleo da Polônia, e da possível mudança na decoração dos carros? Também não. Na Ferrari, não fosse a mexida no comando e o silêncio seria ensurdecedor. A Red Bull se limita a dizer que Pierre Gasly deixou crescer a barba nos últimos tempos, enquanto a McLaren mostra, como se fosse algo para mudar a cotação do dólar, o padrão gráfico dos números de Lando Norris e Carlos Sainz no MCL34.

Teasers das novas máquinas? Material sobre o processo de criação, projeto e produção dos carros e o efeito das novas regras (asa dianteira)? Dos times, praticamente nenhum. Justamente quando seria a hora de manter o público entretido, estimular a expectativa até a segunda semana de fevereiro quando, praticamente ao mesmo tempo, as 10 escuderias vão revelar o que mantêm envolto em mistério.

Agora sim seria o momento de aproveitar o verão no Hemisfério Sul para promover exibições de rua, aproximar a F-1 do público que não tem o espetáculo em seu quintal, mostrar o trabalho de bastidores e o esforço dos rostos desconhecidos que, no gelado inverno europeu, aproveitam até o último minuto para desenvolver componentes, fazer simulações. Ninguém faz questão dos detalhes, ou dos segredos que se tenta manter longe dos olhos da concorrência, apenas de um aperitivo para uma síndrome de abstinência que custa a ter fim. Enquanto isso, MotoGP, Indycar e outras categorias dão o exemplo, com eventos e iniciativas mesmo quando não há nada efetivamente novo a ser mostrado.

Felizmente há um Lewis Hamilton, um Valtteri Bottas que, a seu jeito, fazem questão de compartilhar momentos, experiências e se lembrar de quem, efetivamente, é a razão de ser do espetáculo. E alguns times (a Mercedes-AMG é um bom exemplo) são capazes de se manter ativas nas redes sociais, que seja com um quiz, um TBT ou uma piadinha que seja. Paixão de verdade tem de ser estimulada, mantida. Sem contar que é difícil mostrar a alguém que está ‘chegando agora’ o que é a emoção de uma máquina rasgando a reta a mais de 320km/h se não for com imagens de arquivo ou nos games.

Longe de saudosismo, mas que falta faz o tempo em que os times se mandavam para Jacarepaguá em pleno janeiro para queimar borracha e desenvolver o equipamento sem limitações ou preocupações exageradas com os rivais. Olha que se gastava muito menos, e não havia aquele monte de barreiras indesejáveis cercando os carros a cada parada. Os números hoje podem estar em alta mas, se o circo não der seu jeito de aparecer mais e melhor nesse período, isso não dura para sempre.

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