Pode um campeão mundial de F-1 sofrer de depressão? Com a palavra, o de 1996

A Fórmula 1 é sinônimo de glamour, fama e bons momentos especialmente para um campeão mundial, certo? Nem tanto, a julgar pelas palavras de alguém que chegou lá. Como parte das ações envolvendo o Dia Mundial da Saúde Mental, a Havoline Europe, marca da Texaco, resolveu debater o tema sob o prisma do automobilismo. E levou seu embaixador, um ‘certo’ Freddie Hunt, que dispensa apresentações até mesmo pela imensa semelhança com o saudoso pai, para conversar com Damon Hill que, em sua biografia, admitiu ter passado por momentos sérios de depressão e buscado a ajuda de um profissional para retomar o controle sobre os sentimentos e o desejo de vencer. O que rendeu 11 minutos de um vídeo mais que interessante, ao mostrar o lado humano e frágil de alguém que, para boa parte do público, vive uma vida de sonho e constante alegria.

“Há dois anos, quando se completaram duas décadas do título mundial, eu resolvi escrever um livro e contar a minha versão dos fatos, depois de tudo o que se falou a meu respeito. Acho que devia isso aos fãs. E quis mostrar a eles que também passei por isso. Imagine só, como é necessário ser humilde você, campeão do mundo, ao olhar para seu interior e não ter noção de onde está indo, o que quer mais da vida. Entender que você não tem exatamente o segredo do sucesso para tudo. Eu tinha um sonho, consegui realizá-lo, fiz o mesmo que meu pai e não era feliz”, revela o filho de Graham, hoje comentarista da Sky Sports F1, que lembra como o fato de quase não ter convivido com o pai o privou de um conselheiro e alguém com quem pudesse discutir seus problemas.

Damon admite que não é fácil, especialmente para uma personalidade, admitir um momento de depressão. “Você não se sente a vontade, e acho que é assim com todo mundo, para encontrar as pessoas na rua e dizer, ‘eu estou triste, as coisas não estão bem’. As pessoas precisam saber quem elas são, o que elas fazem e qual o seu papel na sociedade e, quando você perde isso, é catastrófico, pois se tem a impressão de que não se é capaz de fazer nada”, comentou, mostrando como a aposentadoria o deixou inicialmente sem rumo. “Assim que procurei um terapeuta, o alívio foi quase imediato, por poder falar o que me afligia, dividir meus problemas e angústias. Não é alguém que vai te dizer o que fazer, te receitar um remédio mágico, mas agir quase como um treinador, te ajudando a tirar o melhor de si próprio, a reencontrar o rumo da sua vida”.

O ex-piloto de Williams, Arrows e Jordan conta ainda que não é fácil lidar com os opostos do esporte de ponta. “Não há meio-termo, ou você vence ou é um perdedor. As pessoas se referem à carreira como a busca por um topo, eu vejo como estar no mar e querer alcançar a superfície. Quando você não vence, está se afogando. Vencer é mentalmente fácil, fica tudo lindo, mas o desafio é lidar com a derrota. A sociedade vende a cultura do sucesso, o ideal de perfeição. Algo que não é realista, não ajuda, é inalcançável. Eu dava algumas entrevistas e as pessoas me julgavam ‘mas como, ele tem tudo o que quer, como pode estar reclamando ou descontente com algo?'”, prossegue Damon. O mais introvertido Freddie (que quase balbucia as palavras) reconhece que também encontrou um suporte importante ao encontrar um profissional que o ajudasse a lidar com seus ‘fantasmas’.

Sim, caro leitor, eles não são superhomens e a pressão vivida muitas vezes desde a infância para superar a concorrência e vencer não é simples, como mostra um Damon Hill que amadureceu bastante ao longo de sua passagem pelo circo. De início arredio (talvez pelas inevitáveis comparações com o pai, tal como Jacques Villeneuve), foi se soltando com o passar do tempo, a ponto de se transformar exatamente na pessoa retratada na entrevista, capaz de sorrir e brincar com as próprias limitações e levar a vida de um jeito mais leve. Mais um motivo para admirar alguém que não precisou de mais do que um título para merecer admiração, respeito e ser lembrado mais pelo nome que pelo sobrenome. Se seu inglês estiver afiado, assista o vídeo. Vale a pena.

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