Sábado triste para o automobilismo: o adeus a Ricardo Divila

O Brasil e o mundo do automobilismo perderam neste sábado um de seus personagens mais geniais. Ricardo Divila não resistiu às complicações de um tumor no pâncreas, depois de um AVC, e faleceu aos 74 anos na França. O engenheiro e projetista, que ajudou os irmãos Fittipaldi a transformar seus sonhos em realidade, se tornou referência para as mais diversas categorias, vivendo a paixão pelo esporte até os últimos dias de vida.

O adolescente apaixonado pelo aspecto mecânico encontrou, em Emerson e Wilsinho, parceiros de vida. Ajudou a criar máquinas como o Fitti-Porsche; o Fitti-Vê e, depois do primeiro contato com a F1 ao lado do bicampeão mundial, concebeu o primeiro modelo alinhado por um time brasileiro: o Copersucar FD01 (iniciais de Fittipaldi/Divila). Até 1982, participou de uma aventura que levou a escuderia verde e amarela ao pódio (Emerson foi segundo em Jacarepaguá’1978, melhor resultado). E teve a chance de transmitir o conhecimento a um jovem Adrian Newey.

Depois do trabalho com a Copersucar/Fittipaldi, Divila passou a atuar como engenheiro ou consultor nos quatro cantos do mundo. Passou pelo time Apomatox (F3000); ajudou a projetar o carro com que o time First planejava estrear na F1 em 1988 (e que se transformou no chassi da Life, no ano seguinte). Também trabalhou na Ligier, no início dos anos 1990.

‘Bombeiro’

Enquanto atuava em inúmeros projetos paralelos, se transformou em referência para os programas esportivos da Nissan pelo mundo. Com a marca japonesa, esteve no Inglês de Turismo (BTCC); Super GT; F-Nippon; desenvolveu uma picape para o Rally Dakar; se envolveu nos projetos para o WEC (como o GT-R, de motor dianteiro) e a classe GT3. O currículo registra ainda com trabalhos na Indycar, Asian Le Mans Series; na antiga F2; IMSA, Stock Car, GT Open; ILMC; A1 GP, ELMS e F3. Divila acabou ganhando a reputação de ‘bombeiro’ – inúmeras vezes foi chamado para recuperar projetos mal-nascidos ou pouco competitivos.

Mesmo com tamanha bagagem, seguia trabalhando em categorias menores, como a F4, com o mesmo empenho. Dono de uma inteligência muito acima da média, dominava vários idiomas e possuía um senso de humor refinado. No twitter, gostava de usar personagens como o ‘Clã da calamidade’. E se divertia ao questionar verdades das pistas – várias vezes postou a frase ‘downforce nunca é demais’ ao lado de máquinas com asas absurdamente grandes. Mantinha ainda uma coluna na revista Racecar Engineering, em que transmitia a imensa experiência. Radicado na França, também se dedicava a outra de suas paixões: o voo em aviões experimentais.

Volta às origens

Nos últimos anos, Divila trabalhava com carinho em um projeto que o fazia voltar ao início da carreira. Ao lado de Wilsinho Fittipaldi, desenvolveu o projeto de um novo chassi para a Fórmula Vee, que ajudou a criar no Brasil. Com o mesmo rigor e atenção que sempre o caracterizaram, buscou ideias revolucionárias e conceitos que mantivessem a essência da categoria (baixo custo, simplicidade mecânica), adaptados aos novos tempos. O Racemotor mostrou o andamento do projeto, que em breve deve ganhar as pistas, agora como uma homenagem póstuma a uma lenda do automobilismo.

Lito Cavalcanti falou sobre a trajetória do amigo, que, embora admirado no exterior, não teve o devido reconhecimento em seu país natal.

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